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"Na pianola uma valsa antiga."

Quero as luzes do carrossel e as tintas desbotadas.

"De tão desbotada que estava a tinta, tinta que antigamente fora azul e vermelha e agora o azul era um branco sujo e o vermelho um quase cor-de-rosa, e de tantos pedaços que faltavam em certos cavalos e em certos bancos, Nhozinho França resolveu não armá-lo numa das praças centrais da cidade e sim em Itapagipe. Ali as famílias não são tão ricas, há muitas ruas só de operários e as crianças pobres saberiam gostar do velho carrossel desbotado"

Tenho andado com muita pressa, "com o relógio no bolso", pior que o senhor Coelho. E não quero descrever depois o que senti ainda há pouco ao ler as primeiras partes do livro Capitães da Areia, de Jorge Amado. E mesmo que eu esteja com as palavras desordenadas, que mais parecem que estão afogadas em uma sopa de letrinhas, desembucharei!

É como se a minha imaginação produzisse uma sede descomunal! Uma vontade de também rodar no carrossel. Embora eu não esteja nas condições miseráveis que o Sem-Pernas se encontra. Pois há um patrão, que insiste em nos afastar... Em segregar nosso passos, em deixar muitos Sem-Pernas nos farrapos. O que leva o personagem a sentir um turbilhão de coisas vem de um construção de momentos de uma vida completamente diferente da minha. O meu sentimento ao ler o capítulo não vem por eu passar uma realidade miserável, pois minha realidade (apesar dos problemas) é a oposta, mas por senti-la bem perto - na esquina de casa, nas portas das igrejas, na frente dos bancos, etc. Por saber que há uma realidade miserável e que muitas pessoas sofrem com ela.

"Depois vai o Sem-Pernas. Vai calado, uma estranha comoção o possui. Vai como um crente para uma missa, um amante para o seio da mulher amada, um suicida para a morte. Vai pálido e coxeia. Monta um cavalo azul que tem estrelas pintadas no lombo de madeira. Os lábios estão apertados, seus ouvidos não ouvem a música da pianola. Só vê as luzes que giram com ele e prende em si a certeza de que está num carrossel, girando num cavalo como todos aqueles meninos que têm pai e mãe, e uma casa e quem os beije e quem os ame. Pensa que é um deles e fecha os olhos para guardar melhor esta certeza. Já Se vê os soldados que o surraram, o homem de colete que ria. Volta Seca os matou na sua corrida. O Sem-Pernas vai teso no seu cavalo. É como se corresse sobre o mar para as estrelas, na mais maravilhosa viagem do mundo."
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